sábado, 9 de outubro de 2010

DESORDENS DE ATENÇÃO

Fabrícia Moraes

As desordens de atenção, nos dias atuais, é um assunto muito discutido em diversos seguimentos, uma vez que afeta, a família (pais), escola (professores e alunos), sociedade, etc. provocando problemas das mais variadas ordens desde dificuldades de aprendizagem, dificuldades de interação entre outros.

No contexto escolar, a falta de atenção tornar-se um sério problema, já que esta é exigida no processo de aprendizagem. Ela é a condição para que se dê o processo de aprendizagem, a solução de problemas e o desempenho de tarefas cognitivas. Considera-se que a criança não aprende porque não presta atenção.

Os transtornos de atenção exigem tratamento. Muitas crianças são encaminhadas para terapias de enfoque cognitivo-comportamental, que têm em vista aumentar a capacidade de atenção para a realização de tarefas. Para que haja uma aprendizagem significativa é necessário que a atenção esteja voltada aos objetos e estímulos do mundo externo, ou seja, para a captação e busca de informações. A falha na recepção das informações externas é sinal de pouca atenção e baixa capacidade de concentração.

Assim como a falta de atenção na realização de tarefa torna-se algo indesejável, podemos afirmar que a dispersão e a distração também não são muito bem vindas. No entanto, tais fenômenos são distintos. A dispersão consiste num repetido deslocamento do foco atencional, que impossibilita a concentração, a duração e a consistência da experiência. Já a distração é um funcionamento onde a atenção vagueia, fugindo do foco da tarefa para a qual é solicitado prestar atenção e indo na direção de um campo mais amplo, habitado por pensamentos fora de lugar, percepções sem finalidade, idéias vagas, objetos desfocados e idéias fluidas, que ocorrem do mundo interior ou exterior, mas que têm em comum o fato de serem inacessíveis ao apelo da tarefa em ação.

É importante ressaltar que ao restringir a atenção ao ato de prestar atenção, identifica-se o processo de concentração ao de focalização, que não se sobrepõem, pois pode haver focalização sem concentração e também concentração sem foco.

A atenção não é um processo específico, mas que vem sempre acoplado a outros, como a percepção e a memória, possuindo um funcionamento transversal. A atenção não tem uma atualização específica como a percepção tem o percepto e a memória à lembrança, e aí parece encontrar-se a fonte dos mal entendidos que acabam por fazer dela um processo subsidiário. Entretanto, este caráter transversal faz da atenção um processo especial a partir do momento em que ele é entendido como fundo de variação da cognição.

De acordo com H. Bergson (apud KASTRUP, 2004, p. 10) existe uma atenção à duração, que é como uma atenção suplementar e uma atenção voltada para a vida prática e para os imperativos da ação: “A atenção à vida prática está envolvida nas atividades ordinárias da vida cotidiana sendo, portanto utilitária. Já a atenção suplementar caracteriza um mergulho na duração, sendo evidenciada, sobretudo na arte e na filosofia”.

Na mesma época, embora num outro contexto, Freud (apud KASTRUP, 2004, p. 10) estabelece o conceito de atenção flutuante, destacando-a como aquela a ser exercida pelo analista no setting clínico, posto que necessária à escuta sintonizada com as associações inconscientes trazidas pelo paciente.

Podemos dividir o processo da atenção em duas categorias, a atenção involuntária, onde o ser humano não tem controle sobre o que lhe chama a atenção, e atenção voluntária, onde a pessoa decide o que é relevante para si, direcionando sua atenção para o que é mais importante, ou o que lhe estimula mais. Nas escolas a falta de atenção das crianças muitas vezes esta na relação equivocada do conteúdo, que acaba não tendo vinculo com a realidade do aluno.

A atenção é um processo que se apresenta no ser humano de forma inata e vai se desenvolvendo de acordo como ele interage com o universo que o cerca, para isso as pessoas selecionam as informações organizando sua ação no mundo. A criança desde que nasce é inserida em um universo cheio de informações, com uma grande quantidade de estímulos e de conhecimentos, mas ainda não consegue governar sua atenção, neste período sua atenção se dá as mudanças que a criança sente no ambiente, ao barulho, as coisas que a criança não esta acostumada. Neste momento a atenção do ser humano esta localizada num plano de atenção involuntária.

Quando a criança centra a sua atenção numa bola que é jogada de um lado para o outro ou uma música alta, ou ainda outra criança gritando, ela não tem controle desta atenção, não seleciona e não controla sua ação, porque este gesto da criança não é intencional, é involuntário.

A atenção dos alunos sejam eles, crianças ou adolescentes muitas vezes não é prendida pelo professor, mas não se pode dizer que este é o único responsável, como também não podemos culpar o aluno por falta de interesse ou preguiça. A escola como um todo tem que participar na construção da atenção voluntária do aluno para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS


SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z. tradução: DAYSE, B. Porto Alegre: Artmed, 2001.

KASTRUP, V. A Aprendizagem da Atenção na Cognição Inventiva. Rio de Janeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.

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