terça-feira, 2 de novembro de 2010

Agressividade: Energia Necessária Para a Sobrevivência


Fabricia Moraes

Apesar de seu pequeno cérebro (de 450 a 600 cc contra 1400 para o homo sapiens), há cerca de 6,5 milhões de anos o Australopiteco já não era mais um macaco. O Homo abilis, há 2 milhões de anos atrás, tem uma capacidade craniana de 800 cm³, vive em pé, dispõe de uma dentição adaptada a um regime onívoro e carnívoro.

Em pé, sua mão está livre para começar a utilizar e logo a aperfeiçoar instrumentos elementares. O Homo erectus, há cerca de 1,7 milão de anos, é carnívoro, capturou o fogo, dispõe de instrumentos e inaugura seus primeiros ritos.  É um predador que caça tanto os animais quanto os seus semelhantes. Esta parece ser a ruptura com a natureza animal: em vez de um comportamento de retraimento e fuga, tudo indica que os hominídeos adotaram muito cedo um comportamento de predação e ataque, ainda que sem violência ou crueldade excepcionais.  À curiosidade e ao incessante esforço de dominação dos macacos, somaram-se a sede de conhecer e a agressão própria dos carnívoros. De acordo com Michaud (2001, p. 75):

Esse macaco que já não é macaco tem o hábito de caçar, isto é, de deslocar-se fora de territórios limitados e come tudo o que se apresenta. A posição em pé, liberando a mão para os instrumentos, desenvolve a habilidade e a inteligência (em particular a localização cerebral correspondente ao uso da mão). Os instrumentos exigem a cooperação dos caçadores e logo sistemas de comunicação simbólica que, por sua vez, favorecem a transmissão de saberes. Em suma, utilizar instrumentos, caçar, ser um animal carnívoro-onívoro, tais são as características do se humano: sua agressividade conquistadora e imperialista inaugura o descobrimento e a exploração inventivos de um meio ambiente que não se limita mais a um pequeno território. A agressão acompanha a conquista, a destruição e a exploração.

Neste sentido, há uma violência na própria essência da humanidade, que anima suas invenções, suas descobertas e sua produção de cultura. Alguns pretendem que a agressividade humana assumiu seu caráter destrutivo e negativo com a revolução do neolítico (9000 a 7000 a.c), quando os homens passaram da coleta e da caça à exploração da natureza e quando, com a invenção do trabalho dos metais, cria-se uma hierarquia social entre guerreiros e agricultores.

Diante da evidência da inventividade humana, com o que ela tem de exploradora, de manipuladora, de conquistadora e de agressiva, é preciso abandonar o mito de uma natureza animal cuja desnaturação é sua própria essência.

G. Bataille apud Michaud (2001, p.76) opõe a imediaticidade do animal imerso na natureza à exterioridade desse animal-com-instrumentos que é o homem em relação ao seu meio. O animal humano que dispõe de instrumentos corta a continuidade do mundo em objetos que podem ser manipulados e são destinados ao conhecimento. Há aí uma primeira violência, fundadora, que o arranca da continuidade e da imediaticidade, que o arranca da natureza e o faz entrar no excesso e na transgressão.

Essa primeira renúncia à animalidade não pára de suscitar a nostalgia de um impossível retorno a ela, que então desemboca numa outra violência, aquela que, na festa, no sacrifício, na crueldade, na orgia guerreira da destruição, procura incessantemente transgredir a humanidade através de outros excessos ainda mais radicais. Em vez de trazê-lo de volta ao animal, essa segunda violência afirma ainda mais radicalmente a natureza excessiva e a potência de desregramento e de transgressão próprias da humanidade, fazendo-a surgir como a única capaz de horror. Segundo Michaud (2001, p.77):

O mérito de Bataille é ter visto que a eclosão da crueldade humana, em sua gratuidade com relação ao simples objetivo de matar, só pode ser compreendida porque vem de um ser que busca exceder os limites. Em oposição aos animais- que em sua imediaticidade e na ausência de proibições, não são nem pacíficos nem cruéis, mas simplesmente naturais, cujos acessos de fúria nunca são excessos – em matéria de violência a humanidade complica, inventa, acrescenta e refina: transgride com furiosa inventividade.

A violência humana não pode ser considerada como uma falha da evolução; ela deve ser vista em sua especificidade e podemos enfim abrir os olhos para uma crueldade e uma destruição humanas que não têm equivalente na natureza. É bom lembrar que todos os seres humanos trazem consigo um impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas. Portanto, é algo natural. No entanto, a maneira de reagir frente à agressividade varia de sociedade/Cultura, pois cada uma tem as suas leis (umas inclusive agressivas), valores, crenças, etc. Alguns comportamentos agressivos são tolerados, outros são proibidos.

Nas sociedades ocidentais, bastante competitivas, a agressividade costuma ser aceita e estimulada quando esta vale como sinônimo de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. Mas é impedida, reprimida ou punida quando identificada como atitudes de hostilidade, de sentimentos de cólera.

A agressividade na medida certa é um instinto necessário na superação dos obstáculos de toda ordem que vão surgindo ao longo da vida.  Os seres humanos trazem consigo um instinto agressivo, este impulso está profundamente relacionado com a luta pela sua própria sobrevivência. Dulce Vieira (1981) descreve a agressividade como um componente emocional que faz parte, da afetividade de todas as pessoas e que é uma manifestação absolutamente natural do ser humano.

Em certas famílias os pais esperam que seus filhos se comportem como lideres, com atitudes ativas e independentes. Neste caso haverá diferentes formas de estímulos para que as crianças usem mais sua agressividade.

Desde criança o ser humano aprende a reprimir e a não expressar a agressividade de modo descontrolado, mas o mundo da cultura ao mesmo tempo em que busca a subordinação e o controle dos impulsos agressivos, por meio dos mecanismos sociais da lei e da tradição, tentam criar condições do individuo canalizar essa energia agressiva em produções consideradas positivas.

Freud apud Michaud (2001, p. 82) reconheceu muito cedo a importância da agressividade. Segundo ele, o impulso agressivo não se manifesta apenas na destruição propriamente dita, mas sim nas condutas auto-agressivas, na resistência durante a transferência psicanalítica, quando o paciente se volta contra o psicanalista, na ambivalência dos sentimentos em que o ódio disputa com o amor, nos sonhos e desejos de morte dos seres próximos, na maldade dos ditos espirituosos e da ironia.

Após 1919, Freud apud Michaud (2001, p.82) introduziu a idéia da pulsão de morte oposta às pulsões de vida (Eros). Tal hipótese se impõe a ele tanto por razões relativas à natureza do ser vivo e o caráter conservador da vida instintiva, quanto por causa dos fenômenos de repetição, da especificidade do ódio e do gozo adquirido na agressividade e na destruição.

A pulsão de morte tende a desintegrar as unidades vivas conduzindo-as de volta ao estado inorgânico. Ela permanece em parte interiorizada e dá conta então do masoquismo e dos comportamentos de autodestruição. Voltada para o exterior, ela se encontra no princípio do sadismo quando está associada às pulsões sexuais; quando age de maneira isolada, se manifesta como tendência destrutiva e agressão. Freud apud Michaud (2001, p.83) destaca que:
[...] em geral pulsões de vida e de morte operam conjuntamente apoiando-se mutuamente: a autoconservação (pulsão de vida) apóia-se na agressividade para conseguir seus fins diante dos objetos externos; do mesmo modo, a pulsão de amor precisa da empresa agressiva para garantir sua satisfação. 

Freud apud Michaud (2001, p.83) vai estender tais considerações à sociedade afirmando que o processo de civilização e a organização social (que estão a serviço das pulsões de vida) se beneficiam da pulsão de morte transformando-a em agressividade voltada contra os estrangeiros e em fonte de unidade para o grupo; ao mesmo tempo eles a frustram e a reprimem proibindo a violência dos indivíduos entre si: a segurança da vida é paga com a repressão dos extintos.

Entres os psicanalistas pós-freudianos, Melanie Kleiin apud Michaud (2001, p.83) é a que mais insistiu na importância das pulsões de morte e de destruição. Ela pensa que, desde o início do desenvolvimento da criança, a pulsão de morte é em parte expulsa e voltada para os objetos, dando nascimento ao sadismo, mas que a criança também deve se defender contra a fração da pulsão que não foi exteriorizada e provoca uma angústia intensa. A angústia nasceria, assim, das pulsões agressivas projetadas para o exterior e das que permanecem dentro do aparelho psíquico. Essa angústia é considerável e dá origem a mecanismos de defesa agressiva voltada contra os objetos e o superego fantástico dos pais.

REFERÊNCIAS

MICHAUD, Yves, A Violência. São Paulo-SP: Àtica, 2001.

MACHADO, Dulce V. M. Meu Filho é Agressivo: O que preciso saber a respeito da agressividade Infantil. São Paulo- SP: Almed, 1981.

ORTEGA, Rosario; REY, Rosario Del. Estratégias Educativas para a Prevenção da Violência. Brasília: UNESCO, UCB, 2002.

Um comentário:

Luene® disse...

Menina...que inspiração hein?
Nesse final de ano meus trabalhos pedagógicos estão dificil de concluir, meus neurônios já tiraram férias!! kkkkk

Sucesso com seu blog! quando puder venha visitar o meu!


http://sorvete-colore.blogspot.com