sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA TRABALHAR COM ALUNOS DISLÉXICOS



  •   Trate o aluno disléxico com naturalidade. Ele é um aluno como qualquer outro; apenas, disléxico. A última coisa para a qual o diagnóstico deveria contribuir seria para (aumentar) a sua  discriminação.
  • Use linguagem direta, clara e objetiva quando falar com ele. Muitos disléxicos têm dificuldade para compreender uma linguagem (muito) simbólica, sofisticada, metafórica. Seja simples, utilize frases curtas e concisas ao passar instruções.
  • Fale olhando diretamente para ele. Isso ajuda, e muito. Enriquece e favorece a comunicação.
  • Traga-o para perto da lousa e da mesa do professor. Tê-lo próximo à lousa ou à mesa de trabalho do professor, pode favorecer o diálogo, facilitar o acompanhamento, facultar a orientação, criar e fortalecer  novos vínculos...
  • Verifique sempre e discretamente se ele demonstra estar entendendo a sua exposição. Ele tem dúvidas a respeito do que está sendo objeto da sua aula? Ele consegue entender o fundamento, a essência, do conhecimento que está sendo tratado?  Ele está acompanhando o raciocínio, a explicação, os fatos? Repita sempre que preciso e apresente outros exemplos, se for necessário.
  • Certifique-se de que as instruções para determinadas tarefas foram compreendidas. O que, quando, onde, como, com o quê, com quem, em que horário, etc. Não economize tempo para constatar se  ficou realmente claro para o aluno o que se espera dele.
  •  Observe discretamente se ele fez as anotações da lousa e de maneira correta antes de apagá-la. O disléxico tem um ritmo diferente dos não-disléxicos, portanto, evite submetê-lo a pressões de tempo ou competição com os colegas.
  • Observe se ele está se integrando com os colegas. Geralmente, o disléxico angaria simpatias entre os companheiros. Suas qualidades e habilidades são valorizadas, o que lhes favorece no relacionamento. Entretanto, sua inaptidão para certas atividades escolares (provas em dupla, trabalhos em grupo, etc.) pode levar os colegas a rejeitá-lo nessas ocasiões. O professor deve evitar situações que evidenciem esse fato. Com a devida distância, discreta e respeitosamente, deve contribuir para a inserção do disléxico no grupo-classe.
  •   Estimule-o, incentive-o, faça-o acreditar em si, a sentir-se forte, capaz e seguro. O disléxico tem sempre uma história de frustrações, sofrimentos, humilhações e sentimentos de menos valia, para a qual a escola deu significativa contribuição. Cabe, portanto, a essa mesma escola, ajudá-lo a resgatar sua dignidade, a fortalecer seu ego, a (re) construir sua auto-estima.
  • Sugira-lhe “dicas”, “atalhos”, “jeitos de fazer”, “associações”... que o ajudem a lembrar-se  de, a  executar atividades ou a resolver  problemas.
  •  Não lhe peça para fazer coisas na frente dos colegas, que o deixem na berlinda: principalmente ler em voz alta.
       Atenção: em geral, o disléxico tende a lidar melhor com as partes do que com o todo. Abordagens e métodos globais e dedutivos são-lhe de difícil compreensão.  Apresente-lhe o conhecimento em partes, de maneira indutiva.
·           Permita, sugira e estimule o uso de gravador, tabuada, máquina de calcular, recursos da informática...
·           Permita, sugira e estimule o uso de outras linguagens.


PROCEDIMENTOS QUANTO À AVALIAÇÃO

       O disléxico tem dificuldade para ler. Assim sendo,

  •  Avaliações que contenham exclusivamente textos, sobretudo textos longos, não devem ser aplicadas a tais alunos;
  • Utilize uma única fonte, simples, em toda a prova (preferencialmente “Arial 11” ou Times New Roman 12), evitando-se misturas de fontes e de tamanhos, sobretudo as manuscritas, as itálicas e as rebuscadas;
  • Dê preferência a avaliações orais, através das quais, em tom de conversa, o aluno tenha a oportunidade de dizer o que sabe sobre o(s) assunto(s) em questão;
  •   Não indique livros para leituras paralelas. Quando necessário, proponha outras experiências que possam contribuir para o alcance dos objetivos previstos: assistir a um filme, a um documentário, a uma peça de teatro; visitar um museu, um laboratório, uma instituição, empresa ou assemelhado; recorrer a versões em quadrinhos, em animações, em programas de informática;
  •     Ofereça uma folha de prova limpa, sem rasuras, sem riscos ou sinais que possam confundir o leitor;
  • Ao empregar questões falso-verdadeiro:
o   Construa um bom número de afirmações verdadeiras e em seguida reescreva a metade, tornando-as falsas;
o   Evite o uso da negativa e também de expressões absolutas;
o   Construa as afirmações com bastante clareza e, aproximadamente com a mesma extensão;
o   Inclua somente uma idéia em cada afirmação;
  • Ao empregar questões de associações:
o   Trate de um só assunto em cada questão;
o   Redija cuidadosamente os itens para que o aluno não se atrapalhe com os mesmos;
·         Ao empregar questões de lacuna:
o   Use somente um claro, no máximo dois, em cada sentença;
o   Faça com que a lacuna corresponda à palavra ou expressão significativas, que envolvam conceitos e conhecimentos básicos e essenciais - também chamados de “ferramentas”, e não a detalhes secundários;
o   Conserve a terminologia presente no livro adotado ou no registro feito em aula.

O disléxico tem dificuldade para entender o que lê; para decodificar o texto; para interpretar a mensagem; tende a ler e a interpretar o que ouve de maneira literal. Assim sendo,

  • Utilize linguagem clara, objetiva, com termos conhecidos;
  •  Elabore enunciados com textos curtos, com linguagem objetiva, direta, com palavras precisas e inequívocas (sem ‘duplo’ sentido);
  •    Procure deixar as questões ou alternativas com a mesma extensão;
  •   Evite formular questões que possuem negativas;
  •  Trate de um só assunto em cada questão;
  • Se for indispensável à utilização de um determinado texto, subdivida o original em partes (não mais do que cinco ou seis linhas cada uma);
  • Divida um “grande” texto, do qual decorre uma “grande” questão, em “pequenos” textos acompanhados de suas respectivas questões;
  •  Recorra a símbolos, sinais, gráficos, desenhos, modelos, esquemas e assemelhados, que possam fazer referência aos conceitos trabalhados;
  •     Não utilize textos científicos ou literários (mormente os poéticos), que sejam densos, carregados de terminologia específica, de simbolismos, de eufemismos, de vocábulos com múltiplas conotações... Para que o aluno os interprete exclusivamente a partir da leitura. Nesses casos, recorra à oralidade;
  •         Evite estímulos visuais ‘estranhos’ ao tema em questão;
  •          Em utilizando figuras, fotos, ícones ou imagens, cuidar para que haja exata correspondência entre o texto escrito e a imagem;
  •         Leia a prova em voz alta e, antes de iniciá-la, verifique se os alunos entenderam o que foi perguntado, se compreenderam o que se espera que seja feito (o que e como);
  •          Destaque claramente o texto de sua(s) respectiva(s) questão(ões).

              O disléxico tem dificuldade para reconhecer e orientar-se no espaço visual. Assim sendo,

  •          Observe as direções da escrita (da esquerda para a direita e de cima para baixo) em todo o corpo da avaliação.

O disléxico tem dificuldade com     a memória visual e/ou auditiva (o que lhe dificulta ou lhe impede de automatizar a leitura e a escrita). Assim sendo:

  •          Repita o enunciado na(s) página(s) seguinte(s), sempre que se fizer necessário;
  •          Não elabore avaliações que privilegiem a memorização de nomes, datas, fórmulas, regras gramaticais, espécies, definições, etc. Quando tais informações forem importantes, forneça-as ao aluno (verbalmente ou por escrito) para que ele possa servir-se delas e empregá-las no seu raciocínio ou na resolução do problema;
  •          Privilegie a avaliação de conceitos e de habilidades e não de definições;
  •          Permita-lhe que utilize a tabuada, calculadora, gravador, anotações, dicionários e outros registros durante as avaliações;
  •          Instruções curtas e simples (e uma de cada vez) evitam confusões;
  •          Elabore questões em que o aluno possa demonstrar o que aprendeu completando, destacando, identificando, relacionando ou reconhecendo informações ali contidas.
O aluno disléxico ou com outras dificuldades de aprendizagem tende a ser lento (ou muito lento). Assim sendo:

  •          Dê-lhe mais tempo para realizar a prova;
  •          Possibilite-lhe fazer a prova num outro ambiente da escola (sala de orientação, biblioteca, sala de grupo);
  •          Elabore mais avaliações e com menos conteúdo, para que o aluno possa realizá-las num menor tempo.

Considere que o disléxico já tem dificuldade para automatizar o código lingüístico da sua própria Língua e isso se acentua em relação à língua estrangeira.

ALGUNS ASPECTOS PRÁTICOS EM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO

  •          Não espere acumular conteúdos para começar a aplicar as avaliações. Ao contrário, aplique-as amiúde, de acordo com a progressão dos estudos, dando mais oportunidades aos alunos e evitando o acúmulo de conteúdos a serem estudados. Para os disléxicos é preferível mais avaliações com menos conteúdo em cada uma delas.
  •          Sempre que possível, prepare avaliação individualizada. O ideal é que os instrumentais de avaliação sejam elaborados de acordo com as características do aluno disléxico. Desenhos, figuras, esquemas, gráficos e fluxogramas, ilustram, evocam lembranças, ou substituem muitas palavras e levam aos mesmos objetivos[1].
  •          Se for idêntica à dos colegas:
  •          Leia (você mesmo) os enunciados em voz alta, certificando-se de que ele compreendeu as questões;
  •          Durante a prova preste-lhe a orientação necessária para que ele compreenda o que está sendo pedido e possa responder da melhor maneira possível;
  •          Respeite o seu ritmo permitindo-lhe, quando necessário, que a conclua na aula seguinte ou em outro lugar (sala da orientação pedagógica, sala da orientação educacional, biblioteca...);
  •        Ao corrigi-la, valorize não só o que está explícito como também o implícito e adapte os critérios de correção para a sua realidade;
  •          Não faça anotações na folha da prova (sobretudo juízos de valor);
  •        Não registre a nota sem antes retomar a prova com ele e verificar, oralmente, o que ele quis dizer com o que escreveu;
  •          Pesquisar, principalmente, sobre a natureza do(s) erro(s) cometido(s): ex.: Não entendeu o que leu e por isso não respondeu corretamente ao solicitado? Leu, entendeu, mas não soube aplicar o conceito ou a fórmula? Aplicou o conceito (ou a fórmula), mas desenvolveu o raciocínio de maneira errada?  Em outras palavras: em que errou e por que errou?
  •          Somente a aplique se entender que o aluno terá realmente condições de revelar seu aproveitamento através dela. Caso contrário, por que aplicá-la? Para ressaltar - mais uma vez - a sua incapacidade?
  •        Dê ao aluno a opção de fazer prova oral ou atividade que utilize diferentes expressões e linguagens.  Exigir que o disléxico comunique o que sabe, levante questões, proponha problemas e apresente soluções exclusivamente através da leitura e da escrita é violentá-lo; é, sobretudo,  negar-lhe um direito   – natural –   de comunicar-se, de criar, de livre-expressar-se.


[1]disléxicos que não gostam e resistem às propostas de fazer avaliações à parte, mesmo que estas lhes sejam benéficas, preferindo estar junto dos seus pares. Não podemos aceitar isso sem constatar se, de fato, eles têm condições de revelar o seu real aproveitamento em tais circunstâncias. Não nos cabe incentivar e reforçar tal comportamento e, muito menos, nos acomodarmos diante dele.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fabrícia,

Esse texto é de sua autoria? Achei muito interessante. Sou professor e sempre tenho dificuldade de trabalhar com alunos disléxicos.

Divulgarei o link para outros colegas que trabalham comigo.

Até mais,

Eli disse...

Olá! Sou professora e comecei a dar explicações a um miúdo dislexico. Achei este texto mto interessante e útil. Obrigada.