domingo, 10 de outubro de 2010

A IMPORTÂCIA DO JOGO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO E DE PROCESSOS COGNITIVOS DA APRENDIZAGEM

Fabrícia Moraes

Para a criança, brincar está longe de ser mero passatempo. Brincar, jogar, representar, tudo isso é movimento, tudo isso é vida. Vários processos cognitivos podem ser favorecidos através dos jogos, entre eles a percepção, a atenção, o exercício da linguagem, a formação de conceitos, a observação, a memória, a imaginação, e outras dimensões da natureza humana.

Todo jogo que tenha entre seus princípios ou regras os relacionamentos entre indivíduos e/ou grupos é um valioso instrumento de socialização. Para Macedo (2005, p. 26):

A contribuição do jogar para a criança é, portanto, possibilitar o exercício de se subordinar a condições externas, conhecidas. Resumidamente, as regras supõem respeito, o qual implica necessariamente disciplina, obediência, entrega, referência e reconhecimento.

Podemos considerar o jogo uma atividade bastante motivadora porque propõem situações que atiçam a curiosidade da criança, ele desafia e mobiliza a curiosidade levando-a a questionar e a se questionar e, assim, a construir e reconstruir o conhecimento.

Qualquer situação de jogo faz com que a criança enfrente pelo menos três desafios: trabalhar sua autodisciplina, reconhecer a autoridade (no mínimo da regra e comportar-se adequadamente (MACEDO, 2005, p. 31).

Encontramos no brinquedo jogos denominados construtivos. Estes jogos são responsáveis pelas primeiras lições de atividade planejada e racional, de coordenação dos movimentos, de habilidade para governar os próprios órgãos e controlá-los.

Os jogos construtivos ensinam exatidão e acertos aos movimentos, elaboram milhares de hábitos importantes e ajudam a traçar alguns objetivos. Eles são os organizadores da experiência externa.

Os jogos com regras são os organizadores das formas superiores do comportamento. Vygotsky (2003, p. 105) considera esse tipo de jogo “uma espécie de escola superior de brincadeira”. De uma forma geral os jogos com regras estão ligados à resolução de problemas de conduta bastante complexas, eles exigem do jogador tensões, conjeturas, sagacidade e engenho, uma ação conjunta e combinada das mais diversas aptidões e forças.

A brincadeira em si é a maior escola de experiência social. Vygotsky fala o seguinte:

No jogo, o esforço da criança sempre é limitado e regulado pela grande quantidade de esforço dos outros jogadores. Em cada tarefa-jogo, com condição sempre presente, temos a habilidade de coordenar o próprio comportamento com o dos outros, estabelecer uma relação ativa com os outros, atacar e defender-se, prejudicar e ajudar, calcular antecipadamente o resultado de sua intervenção dentro do conjunto geral de todos os jogadores (2003, p. 105).

Na brincadeira do faz-de-conta a criança estimula a criatividade e a imaginação. Este tipo de brinquedo é um dos grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Vale ressaltar que no brincar a criança, na maioria das vezes está sempre acima de sua idade média e de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz-de-conta as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para a sua idade.

Analisando, de um ponto de vista mais científico, muitos aspectos os jogos estão relacionados ao funcionamento do sistema nervoso. Com relação a essa afirmação, Antunha apud Oliveira (2000, p. 37) comenta que os jogos infantis são importantes no processo do aprimoramento das funções neuropsicomotoras de base das crianças.

Do ponto de vista neuropsicológico, eles podem ser analisados confrontando-se as tarefas neles envolvidas versus as funções e áreas cerebrais. Todos os planos do sistema nervoso, desde os mais básicos até os mais complexos, aí participam: a afetividade (sistema límbico), disponibilidade para a ação (sistema motor) e a intelectualidade (sistema neocortical). Antunha apud Oliveira (2000, p. 39) faz a seguinte consideração:

Todas as brincadeiras propiciam prazer, mas sua finalidade não termina aí: os jogos contribuem para o desenvolvimento integral do sistema nervoso em seus aspectos psicomotores e cognitivos, sendo que isto justifica a compulsão com que as crianças a eles se dedicam. Em muitos deles estão presentes a indução, a imitação, perspicácia, observação, memória, raciocínio. Aspectos verbais e não-verbais, melódicos e harmônicos, automatismo, relaxamento, tempo e espaço, todos eles ajudam na integração do ser e na segurança perante si e perante o outro.

Bassedas (1999, p. 142) considera o jogo necessário para que as crianças aproximem-se do mundo dos adultos e para que testem comportamento, papéis e habilidades que reconhecem nos seus pais, nas suas mães, nos educadores, o que lhes permitirá incorporá-los.

Tal fato acontece porque se trata de uma atividade que possibilita espaço para ensaiar, provar, explorar e experimentar. Como afirma Bassedas (1999, p. 144), o jogo proporciona benefícios no desenvolvimento e no crescimento das crianças pequenas. Favorece as capacidades afetivas e emocionais, já que, através do jogo simbólico, com bonecos e objetos variados - tal como explicam os psicanalistas -, as crianças revivem, reproduzem, ou imaginam cenas ou situações da vida real. Essa simulação da realidade permite ir conhecendo, aceitando ou testando novas maneiras de relacionar-se, de enfrentar os conflitos e situar-se no seu contexto social e relacional.

REFERÊNCIAS


 ALMEIDA, P. N. de. Educação Lúdica: Técnicas e Jogos Pedagógicos. 9ª ed. São Paulo: Edções Loyola, 1998.

 BASSEDAS, E.; HUGULT, T.; SOLE, I. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,1999.

OLIVEIRA, V. B. de; ANTUNHA, E. L. G.; RAMOS, A. M. Q. P.; BOMTEMPO, E.; NOFFS, N. de A. O Brincar e a Criança do Nascimento aos Seis anos. 3ª ed., Petrópolis: Vozes, 2000.

 PIAGET, J. A formação do Símbolo na Criança: imitações, jogo e sonho, imagem e representação. 3ª ed., Rio de Janeiro: Zahar Editores,1978.

VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: ArtMed, 2003.

 MACEDO, L. de; PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C. Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005.

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