Fabrícia Moraes
A Teoria Cognitiva Social
da Aprendizagem busca compreender o comportamento humano em relação a sua
aprendizagem. Ela parte da idéia de que as pessoas não só aprendem através do
que fazem de forma afetiva como também aprendem observando a ação de outras
pessoas. Esta teoria pretende indicar os fatores externos e internos, que agem
nos processos humanos de aprendizagem de forma sistemática e completa, podendo
assim descrever os elementos importantes da conduta humana.
Alguns pontos básicos têm
sua importância acentuada na teoria cognitiva social, tais como: o processo de
reciprocidade triádica, a distinção entre aprendizagem por forma atuante e por
forma vicariante, a teorização da modelação, a reformulação do conceito de
reforço e o papel da percepção de auto-eficácia na motivação do comportamento.
No que diz respeito à
reciprocidade triádica Bandura apud Mario Azevedo (1997, p. 03) postula interações
recíprocas entre três espécies de fatores: os fatores pessoais, os
comportamentos e as variáveis ambientais.
Os comportamentos dependem
dos ambientes e das condições pessoais, que por sua vez dependem dos próprios
comportamentos e dos contextos ambientais, que se vêem afetados pelos outros
dois fatores. Vale ressaltar que a influência relativa dos fatores ambientais,
pessoais e comportamentais varia em função do individuo e da situação. Segundo
Bandura apud Rivière in Coll (1997, p.59):
Quando as
condições do ambiente são muito restritivas e demandantes, podem praticamente
obrigar a realizar uma determinada conduta. [...] em outras condições, quando
as pressões ambientais são mais fáceis, os fatores pessoais passam a
desempenhar um papel preponderante no sistema regulador.
No processo de assimilação
das representações simbólicas, o indivíduo pode realizar a aprendizagem destas
informações de duas maneiras, por meio da aprendizagem atuante ou vincate.
Na aprendizagem atuante o
sujeito aprende experimentando as conseqüências das suas ações e recebendo a
influência das suas conseqüência interessante ou desinteressante, designada
como reforço. Este reforço fornece incentivos motivadores e informação quer
sobre a correção da resposta que da sua desejabilidade.
O sujeito na aprendizagem
vicariante aprende observando o desempenho de modelos por meio de observação
direta, através de leitura ou de outros instrumentos mediadores.
Tanto na aprendizagem
vicariante quanto na aprendizagem atuante, a observação explica as mudanças no
desenvolvimento através da formação de expectativas. Bandura apud Mario Azevedo
(1997, p. 04) diz: ”em regra, as aprendizagens complexas envolvem
simultaneamente aprendizagens atuantes e vicariantes”.
A aprendizagem por
observação e imitação é frequentemente designada por modelação. Podemos
distinguir a modelação em modelos vivos, que são as pessoas e modelos
simbólicos, que correspondem a modelos apresentados oralmente, por escrito ou
por outras vias áudios-visuais.
As crianças em todas as
culturas adquirem e modificam padrões complexos de comportamentos,
conhecimentos e atitudes, por meio da observação e modelação dos adultos. De
acordo com Bandura apud Rivière in César Coll (1996, p. 59):
A
aprendizagem observacional acelera e possibilita o desenvolvimento de
mecanismos cognitivos complexos e pautas de ação social. Quando a imitação está
seriamente danificada - como ocorre em algumas crianças com deficiências
importantes da competência social - os processos de humanização tornam-se
extremamente difíceis e sofrem também danos importantes.
Em nossa cultura é normal
que as crianças sejam expostas a observação de modelos agressivos e muito
violentos ou com outra conduta socialmente desviada transmitidas pelos meios de
comunicação de massa.
Em suas primeiras pesquisas referentes aos
efeitos e os determinantes da aprendizagem pela observação conduta Bandura apud
Rivière in Coll (1996, p. 60) e seus colaboradores, tratavam precisamente das condutas
agressivas.
Conseguiram demonstrar que
os modelos reais são mais eficazes que os filmados, no que diz respeito às
questões de imitação de ações agressivas. Porém, os modelos filmados, de certo
modo, também interferem na modelação do comportamento da criança.
Crianças expostas a
modelos agressivos não somente exibe depois resposta imitativa específicas,
como também um número mais elevado de condutas agressivas não imitadas, em
comparação a crianças expostas a modelos não-agressivos. A observação de
modelos agressivos tem um “efeito desinibitório” da agressão, tanto em crianças
como em adultos.
O observador exposto a um
modelo, pode ter seu comportamento afetado de três maneiras diferentes, as
quais constituem três funções da modelação: por aprendizagem observacional de
um novo comportamento, por facilitação de um comportamento anteriormente
aprendido e por inibição ou desinibição de um comportamento anteriormente
aprendido.
A aprendizagem
observacional depende, em primeiro lugar da atenção do observador as atividades
ou demonstrações do modelo, em segundo lugar dos processos de retenção. As
representações simbólicas observadas são retidas na nossa mente, quando vemos
um modelo em ação armazenamos as informações num formulário de imagens mentais
ou de descrições verbais, podendo mais tarde trazer a tona essas lembranças e
reproduzi-la com nosso próprio comportamento.
O terceiro ponto trata dos
processos de produção. Quando se produzem os comportamentos, estes são
comparados com a sua representação conceptual e podem ser corrigidos pela
retroação, tratando de nova informação, as novas concepções elaboradas pelo
indivíduo são comparadas com a informação fornecida.
O último subprocesso e
atividades subjacentes à aprendizagem observacional de novos comportamentos são
os processos motivacionais. As conseqüências dos comportamentos modelados
informam o observador sobre o seu valor funcional e a sua adequação.
As conseqüências servem de
motivação criando expectativas de resultados e aumento a auto-eficácia. Os
incentivos podem ser extrínsecos ou intrínsecos, vicariantes ou pessoais.
Existe modelação por meio
da facilitação de um comportamento anteriormente aprendido quando a modelação
dá origem ao comportamento que antes não se manifestava por falta de motivação
suficiente. Neste caso, a modelação serve de indução para que o observador se
comporte de determinada maneira.
Trata-se de comportamentos
socialmente aceitos. Os processos que estão subjacentes à facilitação da
resposta são as induções sociais que criam estímulos motivacionais para que os
observadores modelem determinadas ações.
Os subprocessos
subjacentes à modelação por inibição ou desinibição de um comportamento
anteriormente aprendido consistem nas expectativas, criadas nos observadores
pelos comportamentos modelados, dos quais as ações foram imitadas. Poderemos perceber
conseqüências similares às dos comportamentos observados: punição, no caso de
inibição, ou ausência de punição no caso de desinibição.
Bandura apud Mario Azevedo
(1997, p.06) diz que a experiência de uma tarefa não é suficiente para ocorrer à
aprendizagem atuante, e a observação do modelo não é suficiente para ocorrer
aprendizagem vicariante ou para o seu desempenho futuro.
Há diversos fatores que
influenciam a aprendizagem e o desempenho, são eles: estatuto desenvolvimental
do aprendente, prestigio e competência do modelo, conseqüências vicariantes,
expectativas de resultados, estabelecimentos de objetivos e auto-eficácia.
Estatuto desenvolvimental
do aprendente, em termos cognitivos, é capacidade para prestar atenção bem como
as diferentes competências necessárias para o processamento da informação
envolvida na observação são dependentes do desenvolvimento do aprendente.
O prestigio e competência
do modelo, podem ser inferido a partir dos resultados das suas ações. O
observador é influenciado não só pela competência, mas também pelo prestígio do
modelo. Pais e professores são modelos de elevado estatus em relação às
crianças, por isso elas podem imitar o maneirismo destes modelos com prestígio.
As conseqüências
vicariantes resultam sobre os modelos oferecendo informação sobre a adequação
comportamental e sobre os resultados prováveis das ações, as conseqüências
valorizadas motivam os observadores.
Nas expectativas de
resultados os observadores desempenham as ações modeladas que eles julgam que são
apropriadas e que terão resultados gratificantes.
Em se tratando do estabelecimento
de objetivos os observadores tendem a prestar mais atenção aos modelos que
mostram comportamentos que os ajudarão a atingir os objetivos desejados.
O ultimo fator é a auto-eficácia
onde os observadores tendem a prestar atenção ao modelo quando se julgam
capazes de aprender ou desempenhar o comportamento modelado.
O conceito
comportamentista do reforço como determinante parcial do comportamento é aceito
por Bandura apud Mario Azevedo (1997, p. 08), porém o mesmo confere um
significado especial a tal palavra. Ele identifica o reforço como conseqüência
do comportamento. As conseqüências do passado influenciam o comportamento
futuro em virtude dos valores de informação e de incentivo que veiculam.
A recompensa e a punição
podem se obtidas de forma vicariante, ou seja, quando acontece quando alguém vê
a si próprio no lugar do outro que é recompensado ou punido.
Na Teoria Cognitiva Social
da Aprendizagem a percepção de auto-eficácia e motivação compreende o
comportamento motivado como um comportamento dirigido a um objetivo, ativado e
sustentado através das expectativas acerca dos resultados antecipados das ações
e da percepção de auto-eficácia para executar aquelas ações.
No estudo da motivação a
percepção de auto-eficácia, o estabelecimento de objetivos, as conseqüências
vicariantes resultantes da observação de modelos ou da comparação social e as
expectativas de resultados são tópicos extremamente importantes definidos na
teoria cognitiva social.
O conceito de
auto-eficácia proposto por Bandura apud Mario Azevedo (1997, p. 09) é definido
como:
[...] O
juízo pessoal acerca das próprias capacidades para executar as atividades requeridas
para atingir determinado nível de desempenho ou, de uma forma mais breve, como
uma crença naquilo de que se é capaz de fazer.
A auto-eficácia refere-se à
percepção das próprias capacidades para produzir ações; a expectativas de
resultados diz respeito à crença nos resultados antecipados dessas ações.
A teoria cognitiva social
defende que a percepção de auto-eficácia ou competência juntamente com a
percepção de autocontrole tem um papel importante na motivação e no desempenho.
A auto-eficácia influencia
o consumo de esforço, a persistência e a aprendizagem. O sentimento de
autocontrole influencia o desenvolvimento de competências, a percepção de
auto-eficácia e as capacidades de auto-regulação que aumentam a
autodirecionalidade.
O desenvolvimento das
funções auto-regulatórias exige padrões de auto-avaliação formados por
modelação. A observação de modelos conduz a comparação social.
Quando faltam dados
objetivos o indivíduo é arrastado para a observação social e para a
conformidade social para satisfazer dois tipos de necessidades: a necessidade
de aprovação e a necessidade de informação.
Bandura apud Mario Azevedo
(1997, p. 10) diz o seguinte: “Quanto mais semelhantes ao observador forem os
modelos, maior é a possibilidade de se induzirem no observador ações
semelhantes às do modelo”.
A auto-avaliação do
progresso e o estabelecimento de objetivos são semelhantes da motivação, na
medida em que permitem criar auto-incentivo. São também elementos importantes
da auto-eficácia, quando estes favorecem o sucesso.
Um objetivo refere-se à
quantidade, qualidade ou freqüência de um desempenho antecipado. Eles serviram
de meta para as próprias ações, além de melhorar a aprendizagem e o desempenho
através da ação sobre mecanismos cognitivos e motivacionais, tais como a
percepção de progresso, auto-eficácia e auto-avaliação.
Os objetivos não
influenciam diretamente a aprendizagem e o desempenho. Bandura apud Mario
Azevedo (1997, p. 11) esclarece que primeiro, eles motivam o individuo para
exercer o esforço de modo a responder às exigências da tarefa e persistir no
exercício da tarefa. O esforço e a persistência, por sua vez, atuam no sentido
de melhorar o desempenho.
A especificidade, a
proximidade e a dificuldade dos objetivos podem afetar as autopercepções, a
motivação e a aprendizagem. A especificidade
dos objetivos é mais influente do que a generalidade e imprecisão,assim como a
proximidade dos objetivos melhoram a motivação , em fim, a dificuldade dos
objetivos mostra que, objetivos desafiantes são mais eficientes do que
objetivos fáceis, desde que as pessoas os considerem possíveis. Os objetivos
auto-estabelecidos são mais motivadores do que os objetivos
hetero-estabelecidos.
Bandura apud Mario Azevedo
(1997, p. 12) fala o seguinte: “O estabelecimento de objetivos permite a
avaliação por referência a padrões internos e, através desse processo
metacognitivo de avaliação, aumenta a auto-eficácia, autocontrole, motivação e
desempenho”.
O reforço é visto como uma
informação a respeito dos resultados prováveis do próprio desempenho. Por este
motivo são construídas expectativas que influenciam a motivação, caso haja uma
percepção adequada de auto-eficácia.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO,Mario.
A Teoria Cognitiva Social de Albert Bandura.
Lisboa-PT, 1997. (Faculdade de CiEncias)
COLL,
César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Alvaro. Desenvolvimento
Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. V.2., Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1996.
Um comentário:
Fico bastante entusiasmado por eu encontrar todos os conteúdos que antes faziam faltas no meu item de faculdades mentais.
no entanto a todos os autores que vos seja entregue mais experiências para o agrado dos vossos leitores, estão de parabéns por tudo...
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